quarta-feira, 25 de junho de 2014

Bixa Recalcada


Aqui há tempos fui em representação de uma associação a uma reunião a uma entidade estatal (dito desta forma parece uma coisa muito importante, mas garanto que não o foi). A reunião atrasou, porque os membros da direção, com quem íamos reunir, estavam noutra reunião qualquer. Então o "relações públicas" lá da coisa esteve a fazer sala connosco. Ele e um colega que ia comigo chegaram já a não sei que ponto, que se desenrola a seguinte conversa:

COLEGA: Há três grandes lobbies em Portugal: A maçonaria, a opus dei e a opus gay! E agora já viram isto dos gays quererem adotar? 
(foi na altura que se debatia a co-adoção). 

RP: Ai, pois é! Eu não tenho nada contra os gays. Tenho vários amigos gays e respeito isso. Mas não é a mesma coisa ter dois pais em que um faz de mãe. 

COLEGA: Pois, e os miúdos lá na escola a virem dizer "eu tenho dois pais, mas não tenho uma mãe. Porque é que eu não tenho uma mãe como os outros meninos?" 
(ele é prof.).

RP: Ai, e depois os miúdos são como os pais. Está-lhe nos genes. Eu e a minha mulher criamos uma sobrinha junto com as nossas filhas, como se fosse nossa. E sempre foi uma destrambelhada como os pais! Se forem criados por gays ou lésbicas, vão ser assim também! 
(seguindo a argumentação dele: então se são genes, também são os teus, não? ou os da tua mulher, o que quer dizer que um de vós, por essa lógica, é destrambelhado. Além disso, se for uma criança adotada, não tem os genes dos pais adotivos, logo não será gay!)

Nada de novo. Eu já tinha ouvido coisas semelhantes. A grande novidade centra-se no RP. O meu radar apitava incessantemente, e ele é de difícil funcionamento (basta lembrarem-se deste episódio). O tipo a falar abanava mais os pulsos que sei lá... Conclusão: se era casado e até tinha filhas, é uma bixa recalcada. Vive mal com ele próprio, daí sair-lhe aquelas baboseiras da boca. 

Quanto ao meu colega, sendo prof., devia ter uma mentalidade um pouco mais aberta. Mas pronto, já tem uma certa idade (não sei bem, mas creio que já ronda os 60s), eu desculpo-o! Até porque sei que, por várias razões, ele não diz aquelas coisas muito alto... 

10 comentários:

  1. Sabes, e isto pode parecer estúpido, mas eu no fundo tenho pena destas pessoas... é que vivem naquelas vidinhas angustiados e já chegaram a um ponto que já deve ser difícil mudar o curso. :\

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    1. Rúben, eu também tenho pena dessas pessoas. São, muito possivelmente, super-infelizes. As tantas, ele trai a mulher com outros homens. Não me espantaria.

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  2. ||||
    Estas coisas a mim incomodam-me, sobretudo quando vem de gente ignorante.

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    1. Eu acho que neste caso não é ser ignorante, João Eduardo. É mesmo ser parvo!

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  3. Tristeza.

    Numa palestra no colégio, durante o secundário, também ouvi um psicólogo referir-se à homossexualidade como "opção" sexual. Até relatei isso no blogue há quatro anos.

    Mas... podes ter sido vítima dos mesmos estereótipos e preconceitos que o indivíduo: o RP por pensar que uma criança que cresce entre homossexuais se tornará um/a: tu por achares que ele é gay só porque o teu "radar" apita, porque "abanava" os pulsos. Nem todos os gays o fazem, diria mesmo que a esmagadora maioria não o faz, e há heterossexuais que o fazem: eu conheço alguns homens heterossexuais bastante "efeminados", delicados, whatever, escolhe.

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    1. Mark o radar apita quando há aquele pressentimento. A pessoa pode até não ter nada desses sinais exteriores. Aquele por acaso tinha.
      E ali é bastante estranho a sua "pressa" em "justificações" sobre a sua própria vida. O contraditório do discurso dele dá a entender isso mesmo...

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  4. eu, como pai gay, fico meio entediado quando ouço tanta bobagem junta! me dá vontade de dar uns tapas em alguem!
    abs

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    1. Acredito plenamente. As crianças desenvolvem a homofobia, porque alguém lhes incrementa isso.

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  5. Tenho pena que a estupidez tenha ficado assim incrustada na mente destas pessoas. Não quero impor a minha opinião, mas pelo menos os eruditos que fazem essas afirmações desconstruam os seus próprios argumentos (como tu fizeste) e chegarão lá. Bahhh

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    1. É que os seus argumentos têm uma série de falhas. Acho inacreditável. Eu tive uma fase assim, mas passou-me. A ele, pelos vistos não...

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