domingo, 4 de outubro de 2015

2.ª Reflexão em dia de eleições (ou será mais a continuação da anterior?)

Os meus amigos não-gays estão ligados a algum momento da minha vida (vida escolar ou laboral). Uma vez, logo no inicio da faculdade, a prof. de psicologia disse que os amigos que fizéssemos naquela altura seriam os amigos para a vida. Estamos fora de casa, os amigos são a nossa família. Era com eles que passávamos os serões, almoçávamos, jantávamos. Não poderei concordar mais. Hoje não estou com os amigos dessa altura todos os dias, acho que alguns passo anos sem os ver. Contudo, quando nos encontramos, é como se não nos víssemos desde o dia anterior. 

Comecei a aceitar a que gostava de homens mais ou menos no início do segundo ano da faculdade. Contudo, pela confusão e por todos os preconceitos que tinha impregnados de 18 anos de vida num meio rural, nunca entrei em confidências com ninguém. Comecei a namorar no início do último ano da faculdade. Em abril desse mesmo ano fomos para estágio. Os meus amigos (ou melhor, amigas, só havia outro rapaz no grupo para além de mim), conheceram o meu ex como um amigo. Nunca se aperceberam (acho eu) que ali havia algo mais que simples amizade e não partilhamos o dia a dia o tempo suficiente para eu me decidir a dar o passo de lhes contar. Hoje, atendendo ao tempo que estamos juntos, acho que não vale a pena. 

Da escola saltei para o meu primeiro emprego, o segundo onde estive mais tempo (um ano, cinco meses e dois dias, para ser preciso), e o único onde criei amigos que chegam aos dias de hoje. O tempo que lá me mantive, por razões várias, não foi o suficiente para criar a base necessária a fazer tal revelação. Ou talvez achasse, inconscientemente, que isso poderia afetar o espírito da equipa em questão (havia lá um elemento, que apesar de não ser homofóbico, deixava-me algumas reticências). A verdade é que nunca coloquei essa hipótese sequer em cima da mesa. Entretanto saí, e a situação passou a ser idêntica aos colegas de faculdade: já não estávamos juntos todos os dias, já não valia a pena entrar nesse campo da minha vida. 

Bem, à coisa de um ano, por razões que não vêm agora ao acaso, aproximei-me de alguns amigos deste primeiro emprego. Mais precisamente três amigas, das quais duas ainda lá trabalham. Não direi que o convívio é diário, mas anda lá perto. E começa a fazer mossa, hoje que sou uma pessoa com a minha sexualidade mais resolvida e emocionalmente mais estável (quando lá trabalhei ainda andava na fase bi-gay). Não dizer que não posso porque estou com o meu namorado, por exemplo, é uma coisa que me custa. Além de que, sem querer, vou-me descuidando aqui e ali. Ainda no outro dia, ia de carro com uma delas, e já não sei bem a propósito de quê, disse na brincadeira "pois, liguei o meu modo diva". Depois de ter dito isto pensei "raio, esta foi um bocado gay". Mas ela ou não percebeu ou fez que não percebeu.

E pronto, tudo isto para dizer que começo a equacionar fazer uma saída do armário para estas três amigas. Sobretudo para uma (a que lhe falei no modo diva), não por causa disso, mas porque é a mais open-mind e sei que não me julgará e que ficará tudo na mesma entre nós (ou talvez se cimente melhor a amizade que temos). Apesar de ainda estar no "equacionamento" da coisa, porque eu sou uma pessoa complicada e tenho de pensar muito sobre as coisas antes de dar o passo, creio que ela vai reagir bem e a nossa relação não vai esfriar. 

A fazer isto, será uma nova experiência. Tenho 27 anos. Aceitei que gostava de homens há sete. Nunca contei a ninguém que era gay. Quem o sabe, conheceu-me assim. A prespetiva de o fazer, deixa-me a tremer... 

18 comentários:

  1. Solta-te amiga ahahahahahahahahahhahahaahahah

    Claro que fortalece as amizades, quando ela existe ;)

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    1. Francisco, vi um vídeo uma vez que o autor dizia que quando nos revelávamos gays, havia uma triagem das pessoas à nossa volta. As que interessavam, continuavam, as que não interessavam, iam com os porcos.

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  2. é difícil. cada um lida à sua maneira. por exemplo, será numa conversa, olha, preciso de te dizer algo muito importante e tal... ou sairá normalmente, eu e o eu namorado vimos o filme e gostámos, etc?. enfim, a certeza é que terá de ser com pessoas da tua confiança, pessoas com quem tu sabes, de conversas anteriores, que são open-minded, e aceitam como normal e nada de comentários homofóbicos (olha que entre mulheres também não faltam).
    como referes, terás de ter a tua sexualidade bem resolvida e não fazer muito drama se não contares. já sabes como é o mundo.

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    1. Margarida, sei que é uma pessoa muito open-minded. Disso não tenho dúvidas (tenho mais reticências em relação às outras duas, confesso).
      Gostei da tua sugestão "eu e o eu namorado vimos o filme e gostámos". Acho que, a fazer isso, tenho de por uma câmara a gravar :P

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  3. Não tens que tremer, nem tens que o fazer. Apenas tens que continuar a seres quem és :-) o resto é um acréscimo dos frutos que semeias!

    E amigos para toda a vida? O que é isso? Alguns podem ter isso, outro não o têm, é como a moeda, tem 2 lados ou como uma história há sempre inúmeras versões.

    E mais uma coisa,,,não tens que contar nada, se o fizeres é porque precisas de o fazer :-)

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    1. Limite, algum tempo depois da convivencia diária, começo a sentir a necessidade de contar. Que ela saiba. Sim, eu quero que ela saiba. Não sei como é que ela haverá de saber :P

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  4. Não tremas. Faz. Vais ver que a reacção é boa! ;)

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    1. Little Tiago, gosto do teu otimismo :D
      Sabes que é estranho, porque eu sei que ela vai reagir bem. Ou pelo menos tenho essa intuição. Mas mesmo assim sinto um nó na barriga se o tiver de fazer...

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  5. Faças o que fizeres, o importante é que estejas bem contigo próprio. Isso de "sair do armário" tem muito que se lhe diga e cada um saberá quando e como e se o deverá fazer.

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    1. Shoes, acho que é isso: tenho de o saber fazer...

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    2. Shoes: quero. Senão, não estava com toda esta conversa...

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    3. então, força! :) tens todo o meu apoio! :)

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    4. Obrigado Shoes :)
      Se correr mal, vou chorar para a tua beira! :D

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  6. Oh pah, aind ahoje quando tenho que falar com alguém, custa-me...Mas nunca, mas mesmo nunca me desiludiram.
    1º estás ao lado dessas pessoas por alguma razão. Sentes de certeza, que mais ou menos os pontos de vista serão os mesmos.
    2º se alguém não se sentir confortável - o que duvido - dá espaço. Se essa pessoa voltar muito bem, se não voltar paciencia.
    3º Vais ver que te vais sentir muito mais solto. Livre. Sem jogos às escondidas. Sem fretes. e Já não tens idade para fretes.
    4º E o que pode acontecer assim tão negativo? Desatarem a correr pela rua abaixo com megafone a gritar : ele é bicha e vai comer as criancinhas?? De certeza que não.

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    1. Anfitrião, acho que tu se quisesses, conseguias convencer alguém que o céu é cor de laranja florescente! :D
      Obrigado pelo encorajamento :)

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  7. Se sentes essa vontade, força! Acho super saudável ;) e é sempre menos uma barreira entre vocês. E depois anda por ai um anónimo preocupado porque alguns bloggers não saem do "armário" LOL e assim podes ajudar a que o número de bloguers fora do armário aumente lololol

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    1. Namorado, não me parece que vá sair do armário. Acho que vou antes convidá-la a entrar no meu armário xD

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