segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Vimos muita televisão e lemos muito pouco

Posso estar meio ressabiado com o resultado destas eleições, mas uma coisa é bem certa: não estou espantado. Mas vamos por partes. 

Quanto ao resultado da CDU em si (força a que pertenço e que defendo), foi francamente positivo, ainda que muita gente queria dizer o contrário (e se isso se admite de comentadores de outros partidos, não se admite que a comunicação social entre nessa histeria também). Falo, entre outros, do Expresso, que teve como título de notícia nada imparcial "CDU em Negação". Tal notícia teve o seguinte comentário do camarada (e deputado reeleito) Bruno Dias "Há dias fiquei a saber que não havia campanha da CDU sem Jerónimo. Esta noite descubro que a CDU está em negação. De facto, quem os ouvisse até pensaria que a CDU cresceu em número de votos, de deputados e em percentagem. Obrigado, Expresso. O que seria da verdade sem ti?"

E a grande verdade é esta: a CDU cresceu em número de votos absolutos, em termos de percentagem e conquistou mais um mandato no parlamento, no círculo do Porto - Viva o Puerto Carago! Cada vez gosto mais do Porto!  
Não tivemos, ao contrário do Bloco, direito a que as nossas melhores intervenções e saídas aparecessem nos noticiários da hora de almoço e jantar. Não tivemos as nossas intervenções na comissão de inquérito do BES em destaque nos jornais. Eles tiveram, e conseguiram canalizar os votos dos descontentes para eles. Não esperava um crescimento tão grande do Bloco, mas quando o vi, não fiquei espantado. Se há coisa que eles tiveram, foi tempo de antena, e mal seria se não o aproveitassem. 

Contudo, e apesar de ser raro fazer futurologia, o resultado do Bloco nas próximas eleições pode alterar-se substancialmente. O da CDU duvido. Quando uma pessoa que nunca votou CDU vota pela primeira vez, fa-lo de uma forma incrivelmente consciente. E porque o preconceito contra a CDU é muito, e as mentiras criadas em torno dela também, se uma pessoa depois de ouvir tudo isso sobre a CDU, mesmo assim decide votar, dificilmente voltará a votar noutro lado (óbvio que há exceções, e também há quem use a CDU como voto de protesto, ainda que de forma residual). A comprovar isto têm o facto de desde 2002 a CDU ter vindo a aumentar gradualmente o seu número de votos, sem sequer dar sinal de baixar. 

Assim, numas próximas eleições, os votos de protesto que desta feita foram para o Bloco, aliados à extensa cobertura mediática que teve, irão para outro lado (talvez alguns para a CDU, mas muito poucos, os da CDU irão conquistar-se na rua, a conversar com as pessoas). 

Quanto aos resultados finais, esta é a prova de fogo para o PS. Quando os partidos à sua esquerda começarem a apresentar projetos de lei para o aumento do salário mínimo, paragem da privatização da TAP, da água, aumento do IRC e descida do IRS e de sobretaxas, a ver vamos como é que este se vai desenvencilhar. 

Nota explicativa do meu título: ler é uma atividade que nos ajuda a pensar, ao contrário de ver TV. Assim, penso que o resultado destas eleições são o reflexo de um povo que não está habituado a pensar. 

10 comentários:

  1. Já votei por diversas vezes na CDU... Quem diria... LOLOLOOLOLOL

    A CDU perdeu, creio que por causa de uns beijos gays na festa do avante. Se a CDU abrisse mais um pouco o seu ângulo de visão, teria melhores resultados seguramente... Foi tudo para o Bloco de Esquerda, porque o PS e CDU não conseguiram "agarrar" os seus apoiantes. A Abestenção (escrita de propósito) não foi muito inferior que há 4 anos atrás, foram os mesmo velhinhos votar... Logo?!

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    1. Francisco, a CDU não conseguiu agarrar os seus apoiantes, mas teve mais votos que na eleição anterior. Não te parece isso contraditório? LOL
      Quanto à questão do avante, já falei disso aqui: http://horatiospatio.blogspot.pt/2015/09/jornalismo-rasca-legislativas.html

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    2. Se vocês o dizem, Até o Pan ganhou um deputado lolololololol

      I believe in you :D

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  2. Tinha amigos meus comunistas militantes que em 2009 afirmavam que o Bloco de Esquerda ia desaparecer em 2011... Não desapareceu e em 2015 passou a ser a terceira força política do país.

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    1. Expliquei acima porquê Namorado. E não gosto de fazer futurologia, mas creio que nas próximas legislativas, a menos que sejam utilizados para arrancar votos a alguém, vêm por aí abaixo...

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  3. Não entendo a pseudo-rivalidade entre o PCP/PEV e o BE. Bem sei que têm pontos discordantes, mas é isso que enfraquece a esquerda.

    Se o BE capitalizou votos de protesto, a CDU também, afinal até obteve um resultado digno, sem prejuízo do eleitorado tradicional, e fiel, da CDU.

    Quanto a uma chamada de atenção da tua parte, eu sei que no Parlamento há dois grupos parlamentares: do PCP e do PEV. Qualquer pessoa minimamente informada o sabe. Devo dizer-te, porém, que a coligação PàF até pondera, pelas declarações de Paulo Portas, vir a ter um único grupo parlamentar. Nada invalida que o PCP e o PEV o venham a fazer de futuro. Aliás, até seria bem mais coerente.

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    1. Mark, não sejas mauzinho. Eu fiz o comentário dos dois grupos parlamentares "na descontra", não foi para te abespinhares rapaz! Sei perfeitamente que tu sabes (se não soubesses, mal de ti....). Já a possibilidade de fundir grupos parlamentares não sabia que existia, descobri na 6a passada... LOL

      Mark, vais tomar café comigo e com o namorado e eu explico-te a rivalidade que existe com o Bloco ;)

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  4. Acho que estás ressabiado... E em vez de ficares contente porque um partido de esquerda ter "subido" tanto pões-te a minorar o feito. O Bloco de Esquerda foi dos poucos que defendeu ideias durante a campanha. E isso é de louvar.

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    1. Shoes, a comunicação social deu tempo de antena as ideias do Bloco. Pensas que a CDU não as apresentou? O Jerónimo faz uma intervenção de meia hora num comício. passa dois minutos dessa meia hora a atacar o PS, e esses dois minutos são os únicos que passam na TV e aparecem nos jornais....

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